sexta-feira, 2 de novembro de 2012

"Les mots, les choses" : a linguagem poética para Jean-Luc Godard


Anne Wieazemsky (Veronique) e Jean Pierre Leaud (Guillaume)
em "La Chinoise", de 1967

Guillaume: " 'A juventude é uma chama de ódio, amor, tristeza, felicidade.' Disposto a abrir seu coração ao amor, como uma inválida, Oneguin...

Veronique: Oneguin.

Guillaume: ...Oneguin, com um olhar sério, escutava as inconfidências do poeta que, ingenuamente, revelava sua cândida consciência." Eu queria ser cego.

Veronique: Por quê?

Guillaume: Para falarmos melhor um com o outro; prestaríamos mais atenção.

Veronique: Como?

Guillaume: Usaríamos a linguagem de forma diferente. Em dois mil anos as palavras as palavras mudaram de significado.

Veronique: E daí?


Guillaume: Conversaríamos mais seriamente um com o outro. Isso significa que os significados mudariam as palavras.

Veronique: Sim, concordo. Falar como se as palavras fossem som e matéria.

Guillaume: E isto é o que elas são... Veronique.

Veronique: Certo, vamos tentar.

Guillaume: Na margem do rio.

Veronique: Verde e azul.

Guillaume: Ternura.

Veronique: Um pouco de desespero.

Guillaume: Depois de amanhã.

Veronique: Talvez.

Guillaume: Teoria da literatura.

Veronique: Um filme de Nicholas. Ray.

Guillaume: Os-jul-ga-men-tos-de-Mos-cou.

Veronique: Pássaro vermelho.

Guillaume: Rock... and roll.

Veronique: Et cetera.

Guillaume: Et cetera?

Veronique: Sim...

Guillaume: Eu te amo, você sabia?


(cena de  "La chinoise", 1967, com roteiro e direção de Jean-Luc Godard)

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