Antonin Artaud, protagonista do romance de Silviano Santiago
Em minha leitura de Teoria literária: uma introdução, de Jonathan Culler, chamou-me a atenção a análise de Jacques Derrida da obra Confissões, de Jean-Jacques Rousseau. Segundo Culler, Derrida considera que Rousseau inaugura o senso comum de que a realidade seria a "presença" que motiva os signos, uma "ausência". Porém nas descrições sobre suas aventuras amorosas, Rousseau acaba narrando, sem perceber, que precisamos constantemente da mediação de signos em relação a pessoa amada independente de sua presença ou ausência. Disso Derrida concluirá que "Não há nada fora do texto", pois a realidade, ao invés de motivar os signos, é motivada por ela.
Achando mais interessante do que a conclusão de Derrida, a ideia de que as relações amorosas entre os indivíduos, especialmente o sexo, são cobertas de signos me levou a uma divagação sobre o trecho que cito a seguir do romance Viagem ao México, de Silviano Santiago. O protagonista do romance, o ator e dramaturgo Antonin Artaud, explicita a relação entre ausência e presença em que o signo não é mais um mediador do sexo, mas sim o próprio espaço onde a sexualidade é exercida:
"Te digo que a descrição de um corpo humano em palavras, em palavras que se adentram pelas partes erógenas do corpo, nomeando-as, me excita tanto quanto o prazer de tocar um corpo de carne e osso para seduzi-lo e penetrá-lo, ou ser penetrado por ele. A sexualidade ou passa pelos olhos e é palavra, ou passa pelos olhos fechados e pelo tato, e é corpo. Nunca uma imagem, imaginação. Posso até usar a imagem para erotizar o outro que está ao meu lado, isso quanto este outro não está querendo ser erotizado pelas minhas mãos. No relacionamento a dois, a imagem é um terceiro ausente e abstrato que pouco me motiva. Na solidão, masturbo-me com a ajuda de palavras concretas, de narrativas pornográficas que vão descrevendo situações obscenas da carne que deseja e que se oferece ao apetite do outro; no caso, a mim, leitor daquelas palavras."
(Silviano Santiago, Viagem ao México)Achando mais interessante do que a conclusão de Derrida, a ideia de que as relações amorosas entre os indivíduos, especialmente o sexo, são cobertas de signos me levou a uma divagação sobre o trecho que cito a seguir do romance Viagem ao México, de Silviano Santiago. O protagonista do romance, o ator e dramaturgo Antonin Artaud, explicita a relação entre ausência e presença em que o signo não é mais um mediador do sexo, mas sim o próprio espaço onde a sexualidade é exercida:
"Te digo que a descrição de um corpo humano em palavras, em palavras que se adentram pelas partes erógenas do corpo, nomeando-as, me excita tanto quanto o prazer de tocar um corpo de carne e osso para seduzi-lo e penetrá-lo, ou ser penetrado por ele. A sexualidade ou passa pelos olhos e é palavra, ou passa pelos olhos fechados e pelo tato, e é corpo. Nunca uma imagem, imaginação. Posso até usar a imagem para erotizar o outro que está ao meu lado, isso quanto este outro não está querendo ser erotizado pelas minhas mãos. No relacionamento a dois, a imagem é um terceiro ausente e abstrato que pouco me motiva. Na solidão, masturbo-me com a ajuda de palavras concretas, de narrativas pornográficas que vão descrevendo situações obscenas da carne que deseja e que se oferece ao apetite do outro; no caso, a mim, leitor daquelas palavras."
Há uma verdadeira pornografia (sem o sentido pejorativo do termo) entre o significante e o significado sem a qual não existiria o sexo como o compreendemos.